Pular para o conteúdo principal

Novo relatório analisa as repercussões socioeconômicas da COVID-19 no Caribe e a urgência de adotar um enfoque sistêmico em matéria de risco de desastres

Available in EnglishEspañolPortuguês
18 de março de 2021|Comunicado de imprensa

Num relatório especial conjunto, a CEPAL e o UNDRR abordam os desafios, oportunidades e recomendações para promover um modelo de recuperação e desenvolvimento que leve em conta o risco no Caribe.

A enorme escala e os efeitos no longo prazo da doença causada pelo coronavírus (COVID-19), somados às possíveis repercussões de outros riscos e acontecimentos recentes, ameaçam prejudicar ou destruir a infraestrutura essencial e os sistemas que sustentam a vida de uma parte importante das sociedades e economias. Por isso, é urgente avançar na adoção de um enfoque sistêmico em matéria de risco de desastres, principalmente no Caribe, região altamente vulnerável aos efeitos da mudança climática, com economias que dependem do turismo estrangeiro e têm altos níveis de endividamento. Assim sublinha um documento elaborado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e o Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNDRR).

O relatório A pandemia de COVID-19: uma oportunidade de aplicar um enfoque sistêmico ao risco de desastres no Caribe ressalta que o risco de desastres é sistêmico e gera complexas interações entre os sistemas humano, social, político e econômico, por um lado, e os sistemas naturais, por outro. A pandemia de COVID-19 demonstrou até que ponto um único risco tem o potencial de desencadear uma sucessão de acontecimentos que prejudicam os sistemas que sustentam a vida nas sociedades e economias do mundo inteiro.

“Esta crise sublinha a necessidade de incorporar a gestão do risco de desastres no planejamento nacional, a fim de garantir uma resposta integral às situações de desastre. No âmbito mundial e regional, é fundamental que as pessoas que trabalham nos organismos internacionais busquem meios de promover e fomentar um novo modelo de desenvolvimento e um marco mundial que nos permitam responder de maneira coordenada e adequada à próxima pandemia”, afirmou Alicia Bárcena, Secretária Executiva da CEPAL.

Por sua vez, Mami Mizutori, Representante Especial do Secretário-Geral para a Redução do Risco de Desastres, assinalou: “Agora é o momento de fomentar o diálogo e as ações de múltiplos interessados a fim de entender e administrar os riscos sistêmicos. Para avançar na adoção de um modelo de desenvolvimento sustentável que leve em conta os riscos, é fundamental incorporar enfoques baseados nos sistemas à formulação das políticas e investimentos em todos os setores e regiões, e em todos os níveis”.

O documento assinala que a duração da pandemia de COVID-19 aumenta a probabilidade de que o risco de desastres provocados por outras ameaças ocorra simultaneamente, ou que haja um atraso na reconstrução após um desastre. Os efeitos e impactos dos furacões Eta e Iota em Honduras, Guatemala e Nicarágua, em combinação com os da COVID-19, são prova disto. Também o é o atraso provocado pela pandemia na reconstrução depois do desastre causado pelo furacão Dorian nas Bahamas.

A escolha do Caribe para exemplificar os potenciais efeitos do risco sistêmico de desastres não é fortuita. “Escolhemos esta região porque apresenta alta vulnerabilidade aos fenômenos hidrometeorológicos ou climáticos extremos, tem mais de 90% da população vivendo em zonas costeiras e são economias que dependem do turismo estrangeiro (mundial) e têm altos níveis de endividamento”, sublinha o relatório; e acrescenta que os efeitos econômicos e sociais da COVID-19 são devastadores para o Caribe e durarão vários anos.

Segundo o relatório, a pandemia revelou as deficiências dos modelos de desenvolvimento atuais e destacou suas limitações, tanto mundialmente como no caso da América Latina e do Caribe. Até há pouco tempo, os economistas ortodoxos estavam de acordo em que manter o equilíbrio fiscal, limitar ao máximo a intervenção do Estado na economia e fomentar a abertura comercial e financeira bastava para gerar crescimento e redistribuição. Existia uma confiança cega em que a liberalização dos mercados de bens, de serviços e de capital era a fórmula adequada para assegurar a prosperidade. Este marco ideológico permitiu sustentar um sistema de governança internacional cujo principal objetivo foi minimizar as barreiras nacionais ao comércio e ao investimento.

“Agora reconhece-se que o Estado deve desempenhar um papel muito mais importante, regulando e coordenando os mercados e promovendo a proteção social e a igualdade. No Caribe, reconstruir melhor implica reconstruir com igualdade e resiliência, entre outras coisas aplicando políticas fiscais ativas que levem em conta as desigualdades existentes e permitam mitigar os efeitos desproporcionais da pandemia de COVID-19, por exemplo, sobre as mulheres, estabelecendo em todos os níveis pactos políticos baseados nos princípios feministas da redistribuição de poder, tempo, trabalho e recursos. O objetivo é promover um modelo de desenvolvimento que priorize a igualdade e a sustentabilidade ambiental. Sendo o Caribe uma região ameaçada por diversos riscos, é preciso adotar um enfoque sistêmico para reduzir o risco de desastres e as vulnerabilidades”, destaca o documento.

O relatório conclui que a complexidade destas situações exige um enfoque que transcenda os métodos tradicionais e compartimentados de redução do risco de desastres. A fim de que os esforços para reduzir seus impactos sejam eficazes, é fundamental abandonar o modelo simplista que ignora as características sistêmicas dos fenômenos extremos. Isso vale para os arranjos institucionais de gestão do risco, as organizações comunitárias, as iniciativas de pesquisa e a formulação de políticas. Assim, o planejamento para o desenvolvimento pode desempenhar um papel fundamental, ajudando a incorporar um enfoque sistêmico na gestão de riscos.