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As máximas autoridades do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC) fizeram um apelo hoje, em Santiago do Chile, a intensificar a cooperação internacional e o trabalho conjunto em tempos de grande incerteza mundial, durante uma Reunião Extraordinária realizada na sede central da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).
Trata-se da segunda vez em 73 anos que este importante órgão da ONU realiza uma sessão no Chile: a primeira foi em 1951, durante a presidência do Chile, e graças ao empenho do Embaixador chileno Hernán Santa Cruz, quando se realizou o décimo segundo período de sessões do organismo em Santiago. Essa ocasião foi a primeira vez na história das Nações Unidas que um órgão principal se reunia fora de sua sede oficial (Nova York), num país em desenvolvimento.
Em 2024, com o lema “O futuro do trabalho: rumo a uma sociedade global produtiva, inclusiva e sustentável”, o ECOSOC (com a presidência exercida novamente pelo Governo do Chile) decidiu transferir esta reunião do Conselho de Nova York e trazê-la mais uma vez para o sul, com o fim de garantir que o diálogo político global reflita as realidades regionais e nacionais e que as reflexões e orientações possam contribuir ao trabalho dos responsáveis pelas políticas em todos os níveis.
A reunião foi aberta pela Embaixadora Paula Narváez, Presidente do ECOSOC e Representante Permanente do Chile nas Nações Unidas. A alta funcionária internacional indicou que a incerteza tem sido uma constante na nossa época e se avista um panorama internacional bastante complexo. “Na metade do prazo de cumprimento da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, estamos deixando para trás mais da metade do mundo. São necessárias medidas urgentes. Trabalhar ainda mais, num esforço que deve ser conjunto”, enfatizou.
“Precisamos aumentar o investimento para criar mais empregos decentes. Maior cooperação, financiamento internacional adicional e assistência técnica que possam complementar os recursos nacionais para ampliar o trabalho decente e o acesso à proteção social. É necessário um esforço coordenado para diminuir a informalidade e criar políticas que promovam salários dignos, contratos seguros e boas condições de trabalho”, declarou Narváez.
O Ministro das Relações Exteriores do Chile, Alberto Van Klaveren, indicou que as desigualdades persistentes, insegurança econômica, impactos crescentes da mudança climática, conflitos crescentes e uma exclusão digital em expansão são obstáculos que ameaçam nosso objetivo de obter a prosperidade para todos. “A Declaração Política da Cúpula dos ODS, em setembro de 2023, estabeleceu um guia, mas também fez um apelo a adotar uma visão crítica para impulsionar transformações profundas e urgentes para implementar políticas de desenvolvimento mais sustentáveis e inclusivas. O trabalho decente emerge como essencial neste propósito. É não só um meio de reduzir a pobreza e as desigualdades, mas também um promotor da inclusão”, reafirmou.
Numa mensagem por vídeo enviada à reunião, a Vice-Secretária-Geral das Nações Unidas, Amina Mohammed, expressou: "O mundo do trabalho está evoluindo e também deve ser nosso foco empoderar os trabalhadores que navegam pela nova era dos mercados de trabalho. O trabalho decente é não só um direito, mas também uma necessidade para a dignidade e a prosperidade dos trabalhadores. Atuemos hoje com políticas inclusivas e proteções sociais, desenvolvimento de capacidades e inovações para os trabalhadores de todo o mundo".
Em suas palavras de boas-vindas, José Manuel Salazar-Xirinachs, Secretário Executivo da CEPAL, assinalou que o ECOSOC continua sendo um dos fóruns mais relevantes da ONU para tratar de temas econômicos e sociais a partir de uma perspectiva integral e multilateral, fomentando a aproximação e facilitando um mundo mais justo e sustentável.
“As transformações sem precedentes que o mercado de trabalho está experimentando são impulsionadas por uma série de fatores, como inovações tecnológicas, mudanças demográficas, aumento da demanda de cuidados, maior mobilidade humana e migração, entre outros”, assegurou. “É imperativo compreender melhor os fatores que impulsionam essas mudanças, e os riscos e oportunidades correspondentes, a fim de elaborar respostas apropriadas para criar empregos decentes e abordar os efeitos sociais e econômicos”, indicou.
Posteriormente, os destacados economistas Mariana Mazzucato e Jeffrey Sachs realizaram duas intervenções magistrais sobre o tema central da reunião.
Mariana Mazzucato, Diretora Fundadora do Instituto para a Inovação e o Propósito Público (IIPP) do University College London (UCL), enfatizou que é necessário levar a sério todos os problemas do desenvolvimento sustentável. “O que realmente vai mudar o mundo é colocar os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) no centro, não na periferia, das orientações da economia”, declarou.
Jeffrey Sachs, Diretor do Earth Institute, do Centro para o Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Columbia (Estados Unidos), indicou que vivemos numa era de avanços tecnológicos e a capacidade de avançar tecnologicamente determina os avanços globais de nossas economias. “Isto depende das habilidades da força de trabalho que por sua vez dependem totalmente da qualidade da educação em todos os níveis”, enfatizou.
A Reunião Especial do ECOSOC sobre o “Futuro do trabalho” continuará nesta terça-feira, 23 de janeiro, com duas mesas-redondas intituladas “Trabalho decente para todos: oportunidades e desafios dos novos mercados de trabalho” e “Aproveitar os impactos das tecnologias emergentes para apoiar mercados de trabalho inclusivos”.
Na quarta-feira, 24 de janeiro, haverá uma cerimônia de comemoração do 75⁰ aniversário da CEPAL, uma terceira mesa-redonda intitulada “Dar forma a um futuro com trabalho decente e proteção social para todos” e um evento especial sobre o 75⁰ aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que incluirá uma celebração do legado do Embaixador Hernán Santa Cruz, um dos redatores iniciais da Declaração.