Diante da nova política tarifária dos Estados Unidos, os países da América Latina e do Caribe devem diversificar suas relações comerciais e aprofundar a integração regional

19 Nov 2025 | Press Release

De acordo com o último relatório anual da CEPAL sobre comércio internacional, os países da região enfrentam, em média, tarifas mais baixas nos Estados Unidos do que vários dos principais parceiros comerciais desse país, o que lhes abre algumas oportunidades para ampliar suas quotas de mercado.

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Diante da mudança na política comercial dos Estados Unidos durante este ano, os governos da região devem diversificar suas relações comerciais e aprofundar a integração regional, de acordo com o último relatório anual da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) sobre o comportamento do comércio regional, apresentado hoje.

No relatório Perspectivas do Comércio Internacional da América Latina e do Caribe, 2025. O comércio internacional na nova era de interdependência instrumentalizada — divulgado em uma coletiva de imprensa pelo Secretário Executivo do órgão regional das Nações Unidas, José Manuel Salazar-Xirinachs — se recomenda que os países evitem adotar medidas que possam aumentar a incerteza em um contexto marcado por grandes perturbações e tensões geopolíticas no comércio mundial.

Em seus três capítulos, o documento apresenta a evolução recente do comércio na região e suas projeções, analisa especialmente o impacto que a nova política comercial dos Estados Unidos teve sobre os países da região e examina o desafio de aumentar a intensidade tecnológica e de capital humano avançado das exportações de bens e serviços da América Latina e do Caribe.

De acordo com o documento, como resultado dos diversos aumentos tarifários implementados pelos Estados Unidos desde fevereiro de 2025, os países da América Latina e do Caribe enfrentam, em média, uma tarifa efetiva de cerca de 10% nesse país, 7 pontos percentuais abaixo de sua tarifa média em relação ao resto do mundo. A maior tarifa média é enfrentada pelo Brasil (33%), seguido pelo Uruguai (20%) e Nicarágua (18%). O México enfrenta uma tarifa média efetiva de 8%, o que se explica pelo fato de que a maioria das suas exportações estão livre de tarifas, seja por se beneficiar do Tratado entre o México, os Estados Unidos e o Canadá (TMEC) ou por não estar incluída nos aumentos. 

Em geral, os países da América Latina e do Caribe enfrentam tarifas mais baixas nos Estados Unidos do que vários dos principais parceiros comerciais desse país, especialmente da Ásia. Essa situação abre oportunidades de desvio comercial em favor das exportações da região, em setores como vestuário, dispositivos médicos e agroindústria, indica a CEPAL.

Por outro lado, há evidências de que a incerteza gerada pelas mudanças na política comercial dos Estados Unidos está repercutindo nos fluxos de investimento estrangeiro direto (IED) para a região, especialmente nos setores que têm uma orientação marcadamente exportadora para esse mercado, indica o relatório. No primeiro semestre de 2025, os anúncios de projetos de IED na região chegaram a US$ 31,374 bilhões, 53% a menos do que no mesmo período de 2024 e 37% abaixo da média de 2015 a 2024.

Para enfrentar esta situação, a CEPAL recomenda aos países da região que aprofundem suas relações comerciais com parceiros como a China, a União Europeia, a Índia, a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), o Conselho de Cooperação do Golfo e a Zona de Livre Comércio Continental Africana. Além disso, recomenda-se aprofundar a integração regional em áreas como infraestrutura, facilitação do comércio e convergência regulatória. 

Comportamento do comércio regional em 2025

O relatório Perspectivas do Comércio Internacional da América Latina e do Caribe 2025 indica que o valor das exportações regionais de bens da América Latina e do Caribe crescerá 5% em 2025, um aumento semelhante ao registrado em 2024 (4,5%). A expansão projetada é explicada por um aumento de 4% no volume exportado e um aumento de 1% nos preços.

Enquanto isso, as importações regionais aumentarão 6%, resultado de um aumento de 7% no volume e uma queda de 1% nos preços. 

Entre os principais parceiros comerciais da região, é previsto que o maior aumento em 2025 em termos de valor ocorra nas exportações para a China (7%), associado principalmente ao crescimento das vendas de carne e soja e aos preços mais elevados de minerais como o cobre. As remessas para a União Europeia cresceriam 6% e para os Estados Unidos 5%.

Para o comércio intrarregional, projeta-se um crescimento em torno de 1%. Dado o maior dinamismo estimado das remessas extrarregionais em relação às destinadas à própria região, espera-se uma ligeira redução do coeficiente de comércio intrarregional, que passaria de 14% para 13%. 

Por outro lado, projeta-se que o valor das exportações regionais de serviços aumente 8% em 2025, ou seja, um ponto a menos do que o crescimento registrado em 2024. Apesar disso, essas exportações continuam apresentando um dinamismo maior do que as de bens em termos de valor.

Intensidade tecnológica e capital humano avançado

No terceiro capítulo, o relatório anual da CEPAL explica que a produção, exportação e importação de bens e serviços de alta intensidade tecnológica e alto nível de capital humano é um fator fundamental para impulsionar a produtividade e a competitividade. A produção de bens de alta tecnologia tem um efeito multiplicador sobre o crescimento econômico e a geração de empregos qualificados. O mesmo ocorre com o comércio de serviços, em particular os chamados serviços modernos (fornecidos digitalmente). Uma maior internacionalização desses setores poderia contribuir para superar a armadilha da baixa capacidade de crescimento em que se encontra imersa a região.

No entanto, o relatório conclui que a inserção da região nesses segmentos continua limitada. Sua participação nas exportações mundiais de bens de alta tecnologia manteve-se sistematicamente abaixo de 5% e, no caso dos serviços modernos, abaixo de 2%. No nível regional, o México concentra 85% das exportações de manufaturados de alta tecnologia, enquanto o Brasil lidera em serviços modernos (33%). 

O atual contexto de globalização redefinida e reconfiguração das cadeias globais de valor, no qual a disputa pela liderança em indústrias e tecnologias estratégicas ocupa um lugar central, abre novas oportunidades para reposicionar a região em mercados intensivos em conhecimento. Para isso, a CEPAL recomenda uma dupla estratégia: por um lado, impulsionar políticas produtivas que aumentem a participação regional nas exportações de bens e serviços avançados; por outro, fortalecer as capacidades institucionais necessárias para projetar, coordenar e sustentar essas políticas, em suas dimensões técnicas, operacionais, políticas e prospectivas (capacidades TOPP).

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