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A diplomata mexicana Alicia Bárcena concluiu hoje seu mandato como Secretária-Executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), após quase 14 anos de gestão caracterizada pela marca da igualdade e sua incidência fundamental no processo de desenvolvimento dos países e no progresso humano.
“Hoje encerro esse frutífero ciclo como responsável máxima da CEPAL. Essa foi a etapa mais luminosa da minha trajetória profissional. Durante quase 14 anos contribuí para dar peso, influência e oportunidade ao corpo de convicções transformadoras, progressistas e igualitárias que distinguem o presente do pensamento cepalino”, afirmou Alicia Bárcena durante uma cerimônia realizada em sua homenagem, de forma híbrida, da sede da Comissão Regional em Santiago, Chile.
Alicia Bárcena assumiu o cargo de representante da CEPAL em 1º de julho de 2008. Foi nomeada para esse cargo pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, tornando-se a primeira mulher a exercê-lo. Nessa função, liderou o trabalho da Comissão como centro de excelência e de pesquisa aplicada às políticas públicas sobre o desenvolvimento sustentável, fórum de diálogo regional intergovernamental e multissetorial sobre o desenvolvimento sustentável e provedor de cooperação técnica aos países.
Desde que assumiu a Secretaria Executiva da CEPAL, e enfatizando o pensamento estruturalista histórico da organização, Bárcena destacou o papel central da igualdade para o fortalecimento de um estilo de desenvolvimento que conjugue crescimento econômico, inclusão social e sustentabilidade ambiental. Este enfoque foi incorporado nos principais documentos dos últimos seis Períodos de Sessões da Comissão: A hora da igualdade: brechas por fechar, caminhos por abrir (2010), Mudança estrutural para a igualdade: uma visão integrada do desenvolvimento (2012), Pactos para a igualdade: rumo a um futuro sustentável (2014), Horizontes 2030: a igualdade no centro do desenvolvimento sustentável (2016), A ineficiência da desigualdade (2018) e Construir um novo futuro: uma recuperação transformadora com igualdade e sustentabilidade (2020). Apesar de formarem uma unidade (com foco na igualdade), os seis documentos são bem diferenciados e se complementam. Correspondem, em conjunto, à defesa dos direitos da cidadania, de um Estado de bem-estar social e de importantes melhorias na distribuição de renda, baseados em um contínuo aumento da produtividade, por meio da combinação virtuosa de uma macroeconomia para o desenvolvimento e políticas de transformação produtiva e exportadora, respeitando a sustentabilidade ambiental. Enfatizam também a importância de um multilateralismo renovado e a concretização da tão esquiva integração regional.
Durante sua gestão, Alicia Bárcena liderou um período prolífico em que se formou mais uma geração do ideário cepalino. Um ideário progressista para a região, que tem como propósito superar os obstáculos estruturais que frearam o avanço democrático profundo e o progresso material e cultural da América Latina e do Caribe.
Nas palavras do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, Alicia Bárcena “liderou uma gestão progressista e visionária. Ela foi uma das primeiras na ONU a colocar a igualdade em suas muitas manifestações – incluindo a igualdade de gênero – como a pedra fundamental do desenvolvimento sustentável e a destacar os desafios específicos dos países de renda média”.
Entre as múltiplas iniciativas que marcam seu legado cinco se destacam: O Plano de Desenvolvimento Integral para El Salvador, Guatemala, Honduras e o sul-sudeste do México, como um compromisso para abordar as causas estruturais da migração; o Plano de Autossuficiência Sanitária para a América Latina e o Caribe, que busca fortalecer as capacidades de pesquisa, desenvolvimento, produção e acesso às vacinas e medicamentos em toda a região, com ênfase em ações para promover a integração regional; a iniciativa “O Caribe primeiro” (Caribbean first), uma estratégia que aponta para reavaliar e fortalecer o pertencimento do Caribe como parte fundamental de nossa região e ampliar as oportunidades de integração e cooperação; financiamento para o desenvolvimento a partir da dimensão regional; e o Acordo Regional sobre o Acesso à Informação, à Participação Pública e o Acesso à Justiça em Assuntos Ambientais da América Latina e do Caribe (Acordo de Escazú), um tratado sem precedentes, que busca assegurar um meio ambiente saudável e um desenvolvimento sustentável para as gerações presentes e futuras por meio de sociedades mais informadas, participativas, justas e inclusivas.
Por decisão do Secretário-Geral das Nações Unidas, Bárcena será sucedida no cargo de forma interina a partir de 1º de abril de 2022 pelo economista argentino Mario Cimoli, que atua como Secretário-Executivo Adjunto da CEPAL desde 2018.
“O papel e o peso atuais da CEPAL, o valor e a importância de sua voz, a influência e o impacto de suas ideias, embora muitas vezes tenham a mim como porta-voz, são o fruto fértil do trabalho tantas vezes anônimo das mulheres e dos homens que o conformam. A CEPAL tem sido realmente, para nós, o território fecundo das convicções compartilhadas. A ferramenta propícia para dar forma concreta ao nosso desejo comum de dignidade, justiça e igualdade”, concluiu Alicia Bárcena.