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Os desafios econômicos do Caribe podem ser vinculados em grande medida à vulnerabilidade externa da região, assinala o relatório A resiliência e os fluxos de capital no Caribe (disponível somente em inglês), divulgado pelo Escritório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) em Washington.
O relatório, focado no acesso da região ao financiamento externo e em como melhorá-lo como parte da resposta global aos desafios de desenvolvimento, analisa as tendências nos fluxos internacionais de capital para o Caribe nos últimos anos (incluindo os fluxos de carteira e o investimento estrangeiro direto) no contexto de uma queda na ajuda oficial para o desenvolvimento (AOD) e da crescente importância dos fluxos de capital privado no contexto externo global; os desafios a respeito do financiamento para o desenvolvimento e a necessidade de canalizar recursos para a Agenda 2030, a vulnerabilidade e fragilidade da região caribenha e a necessidade de fortalecer sua resiliência.
Segundo o estudo, os fluxos líquidos de AOD para o Caribe seguem uma trajetória descendente desde 1990. A contraparte desta tendência tem sido a crescente importância dos fluxos de capital privado para a região. O investimento estrangeiro direto e as remessas se converteram nas principais fontes de fluxos de financiamento externo na década de 90, e continuam assim até hoje. Os fluxos de carteira, por outro lado, têm sido mais voláteis e representam uma porção muito menor do total.
Este relatório examina o papel dos fluxos de carteira privada na mobilização de recursos e o acesso do Caribe aos mercados internacionais de dívida, inclusive as características importantes dos títulos de dívida caribenhos, como os diferenciais (spreads), as classificações creditícias e o volume de emissão.
Em sua maioria, o acesso dos países caribenhos aos mercados internacionais privados de dívida durante e após a crise financeira global ficou mais caro e mais reduzido do que para muitas das economias maiores da América Latina. Durante a crise financeira global, os spreads da dívida do Caribe aumentaram muito mais que os do resto da região da América Latina e Caribe (ALC). Os países caribenhos também experimentaram mais rebaixamentos na classificação do risco creditício e muitos deles ainda não recuperaram suas classificações anteriores. Já que muitas de suas economias contam com mercados de capitais pequenos e pouco desenvolvidos, as classificações creditícias podem desempenhar um papel importante nas decisões dos investidores.
Além disso, apesar de uma emissão recorde da ALC em seu conjunto desde 2009, a emissão de dívida por parte dos países caribenhos continua sendo uma parcela pequena do total, explica o relatório. De 2000 a 2017, a emissão do Caribe alcançou 32 bilhões de dólares e representou apenas 2,5% do total da ALC. Somente sete países caribenhos recorreram aos mercados internacionais de dívida nesse período, e os três maiores emissores da região foram Jamaica, Trinidad e Tobago e Bahamas. Com respeito à emissão corporativa, somente as empresas baseadas em quatro países caribenhos (Jamaica, Trinidad e Tobago, Barbados e Bahamas) tiveram acesso aos mercados internacionais de títulos, e mais de 90% das emissões corporativas do Caribe foram realizadas em dois setores: telecomunicações e energia.
Dado que somente alguns países caribenhos tiveram acesso aos mercados internacionais nos últimos anos, os fluxos de carteiras privadas costumam passar despercebidos como fonte de financiamento externo por sua volatilidade e seu papel reduzido. Contudo, o relatório indica que, através de instrumentos de valor inovadores (como os swaps de dívida ou títulos verdes, entre outros) e de maior cooperação entre os países e com a comunidade internacional, os fluxos de carteira privada poderiam desempenhar um papel mais importante na mobilização de recursos do Caribe para a implementação da Agenda 2030.