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No dia 30 de março de 2021, o Escritório no Brasil da Comissão Econômica para a América e o Caribe (CEPAL), a ONU Mulheres Brasil e a Fundação Friedrich Ebert Stiftung (FES-Brasil), realizaram a live “A dimensão de gênero e o Grande Impulso para a Sustentabilidade no Brasil”. Com a mediação de Nátaly Neri (Cientista Social e YouTuber), o evento teve formato de um bate-papo com a participação de duas das quatro autoras do relatório, Margarita Olivera (Professora do Instituto de Economia da UFRJ e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas de Economia e Feminismos, NuEFem/IE/UFRJ) e Maria Gabriela Podcameni (Professora do Instituto Federal do Rio de Janeiro, IFRJ, e pesquisadora da RedeSist/UFRJ), e das debatedoras Darlly Tupinambá (Indígena do Povo Tupinambá e Articuladora Nacional do Engajamundo), Rayanne Máximo (Indígena do Povo Baré e Membro da Rede de Juventude Indígena), Natália Chaves (Co-fundadora da Rede Brasileira de Mulheres na Energia Solar) e Camila Gramkow (Oficial de Assuntos Econômicos no Escritório da CEPAL no Brasil), além da participação de Vanessa Sampaio (Gerente de Empoderamento Econômico na ONU Mulheres Brasil).
A live teve como objetivo lançar o relatório “A dimensão de gênero no Big Push para a Sustentabilidade no Brasil: as mulheres no contexto da transformação social e ecológica da economia brasileira”, que é assinado por, além das pesquisadoras Margarita Olivera e Maria Gabriela Podcameni, Maria Cecília Lustosa (Professora do Profinit e Pesquisadora da Redesist/UFRJ), e Letícia Graça (pesquisadora do (NuEFem/IE/UFRJ) e contou com a coordenação de Camila Gramkow, do Escritório da CEPAL no Brasil.
O relatório discute a dimensão de gênero no contexto dos investimentos transformadores para a igualdade e a sustentabilidade no âmbito da abordagem do Grande Impulso (ou Big Push) para a Sustentabilidade. Baseado em evidências, são oferecidos subsídios para a formulação de uma estratégia de recuperação com igualdade e sustentabilidade, que promova, a partir de investimentos sustentáveis, oportunidades de emprego e renda para as mulheres, consideradas na sua diversidade, e de melhoria da disponibilidade e da qualidade de serviços de cuidado, liberando o tempo das mulheres e contribuindo para sua autonomia econômica. Adota-se a perspectiva da interseccionalidade, considerando, dada a disponibilidade de informações e dados, a relevância da questão racial nessa realidade e a diversidade das mulheres (negras, indígenas, quilombolas, periféricas).
A publicação aponta que mulheres, meninas e corpos feminizados tendem a sofrer impactos desproporcionais das mudanças climáticas, porque as profundas desigualdades existentes as tornam um grupo mais vulnerável diante de eventos climáticos extremos, como por exemplo secas prolongadas, inundações ou temporais. De forma inédita, o relatório aponta que há uma baixa participação feminina nos empregos verdes no Brasil. Na área de energias renováveis, por exemplo, as mulheres representam apenas 11,7% dos empregos. A publicação também indica que a mobilização de investimentos em áreas estratégicas e a coordenação de políticas públicas podem transformar o cenário atual rumo à sustentabilidade e à igualdade, contribuindo não apenas para a mitigação de efeitos climáticos extremos, mas também para gerar oportunidades para mulheres em termos de inclusão produtiva e de acesso a serviços de cuidados.
O relatório é fruto de um esforço coletivo e das contribuições de diversas pessoas com efetiva atuação nos temas abordados. Com base na revisão da literatura, no levantamento de dados e informações e na análise do quadro de políticas nacional, regional e internacional, foi elaborado um relatório preliminar. Esse relatório preliminar foi objeto de discussão em oficina virtual realizada em 23 de setembro de 2020, com a participação de especialistas e lideranças da sociedade civil, da academia, do setor privado e do poder público com experiência em temas ligados a gênero, meio ambiente, clima e desenvolvimento. As ricas discussões da oficina, bem como os comentários e sugestões ao relatório preliminar recebidos por escrito permitiram revisar e aprimorar o relatório, resultando na publicação final.
A iniciativa resulta de uma parceria entre o Escritório da CEPAL no Brasil e a Representação da FES no Brasil, que buscou contribuir para o debate crítico sobre políticas e medidas ligadas ao enfrentamento da mudança do clima, do ponto de vista da mitigação e da adaptação, que contribuam para alcançar a igualdade de gênero, com foco na divisão sexual do trabalho e na organização social do cuidado no Brasil.
Além disso, o evento ocorreu no marco do Fórum Geração Igualdade, realizado pela ONU Mulheres, de 29 a 31 de março de 2021 na Cidade do México. O Fórum contempla uma série de encontros que permitirão enfrentar os obstáculos estruturais e sistêmicos que impedem alcançar uma verdadeira igualdade de gênero e a garantia do exercício dos direitos humanos de mulheres e meninas em nível global. Esse Fórum representa uma oportunidade histórica para promover a plena implementação da Plataforma de Ação de Pequim no âmbito das comemorações do 25º aniversário, além de estar alinhado com a política externa feminista promovida pelo Governo do México.
Para Carlos Mussi, Diretor do Escritório da CEPAL no Brasil, é possível construir um novo futuro a partir de um Grande Impulso rumo à sustentabilidade ambiental e à igualdade de gênero. “É preciso construir novos pactos econômicos, fiscais e políticos. Não podemos ter uma retomada que aumente a pobreza e a desigualdade, que piore a sobrecarga de trabalho das mulheres ou que agrave ainda mais a emergência climática. Nós precisamos de uma nova geração de políticas que tenham a sustentabilidade e a igualdade no centro, criando condições para que os investimentos sustentáveis aconteçam com a escala necessária e com a rapidez necessária para uma recuperação transformadora com sustentabilidade e igualdade de fato”, destacou.
“O relatório foi fruto de um esforço coletivo, das organizações e pesquisadoras, e das contribuições de diversas pessoas. O tema não se esgota nesse documento, é preciso construir uma agenda de debates e estudos a partir de uma perspectiva da interseccionalidade dos direitos humanos das mulheres nos seus mais diversos contextos e realidades no âmbito do enfrentamento às mudanças climáticas”, explicou a representante da ONU Mulheres no Brasil, Anastasia Divinskaya.
De acordo com a diretora de programas da Fundação Friedrich Ebert Brasil, Waldeli Melleiro, os eventos extremos como a pandemia e as mudanças climáticas aprofundam as já existentes desigualdades raciais e de gênero. “Para alterar essa inserção desigual e promover uma transformação social, é necessária a adoção de políticas e investimentos com foco explícito nas mulheres nos diversos setores: em infraestrutura, no trabalho, nos empregos verdes, na saúde e na organização social do trabalho de cuidados. Adotar a transversalidade de gênero é urgente e essencial e, para a Fundação Friedrich Ebert, a democracia só é possível se houver justiça de gênero”, ressaltou.
As discussões do evento permitiram ter uma maior compreensão sobre a dimensão de gênero e suas interseccionalidades raciais, étnicas e econômicas no contexto da emergência climática e da necessidade de uma recuperação transformadora com sustentabilidade e igualdade.
O relatório “A dimensão de gênero no Big Push para a Sustentabilidade no Brasil: as mulheres no contexto da transformação social e ecológica da economia brasileira” está disponível em:
A gravação da live pode ser acessada em: