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Urge que a comunidade internacional apoie o fim da graduação da ajuda oficial ao desenvolvimento por parte dos países de renda média

5 de julho de 2021|Notícias

Alicia Bárcena, Secretária Executiva da CEPAL, participou da sessão de abertura do mês do “Desenvolvimento em Transição: Diálogos para traçar novos caminhos para a América Latina e o Caribe”, quando instou a adotar uma medição multidimensional do desenvolvimento.

A Secretária Executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), Alicia Bárcena, instou a comunidade internacional a apoiar o fim da graduação da ajuda oficial ao desenvolvimento por parte dos países de renda média, no evento de abertura do mês do Desenvolvimento em Transição: Diálogos para traçar novos caminhos para a América Latina e o Caribe, organizado pela CEPAL, a Comissão Europeia e o Centro de Desenvolvimento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A alta funcionária das Nações Unidas destacou que é necessário adotar uma medição multidimensional do desenvolvimento e que os países de renda média tenham acesso ao financiamento concessional.

“Por isso, desde 2017 trabalhamos numa mudança de narrativa, no conceito de Desenvolvimento em Transição”, assinalou.

O evento, intitulado “Fomentar novos modelos de desenvolvimento: Um enfoque multidimensional para o mundo após a COVID-19”, foi aberto por Andrés Allamand, Ministro das Relações Exteriores do Chile, María del Pilar Garrido, Ministra de Planejamento e Política Econômica da Costa Rica, Carola Beatriz Ramón, Subsecretária de Assuntos Econômicos Multilaterais e Bilaterais da Argentina, e Francisco André, Secretário de Estado de Assuntos Exteriores e Cooperação de Portugal (por vídeo).

Na mesa de discussão, além de Alicia Bárcena, participaram Mario Pezzini, Diretor do Centro de Desenvolvimento da OCDE, Andreas Schaal, Diretor da Secretaria de Relações Globais da OCDE, e Jolita Butkeviciene, Diretora para a América Latina e o Caribe da Comissão Europeia. As palavras de encerramento estiveram a cargo de Stanislav Raščan, Secretário de Estado de Assuntos Exteriores da Eslovênia.

Durante sua intervenção, Alicia Bárcena advertiu que atualmente o mundo enfrenta o aprofundamento de assimetrias globais e uma recuperação divergente, com acesso desigual a vacinas, mercado, financiamento e capacidades tecnológicas.

“Os países em desenvolvimento estão ficando para trás, longe de cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, afirmou.

Reiterou que a região da América Latina e Caribe é a mais afetada do mundo em desenvolvimento pela pandemia, com 203 milhões de pobres, 78 milhões de pessoas na pobreza extrema e 42 milhões de pessoas desempregadas, sendo as mulheres as mais afetadas.

A região é também a mais endividada do mundo em desenvolvimento, tendo que aplicar 59% de suas exportações ao pagamento do serviço da dívida, alertou a Secretária Executiva da CEPAL.

“Temos que repensar o paradigma de desenvolvimento. Necessitamos uma resposta não convencional que nos permita uma transformação resiliente, descarbonizada e digitalizada”, sublinhou.

Alicia Bárcena ressaltou que na América Latina e no Caribe é necessário enfrentar a baixa produtividade e alcançar uma competitividade autêntica; porém, para isso é necessário abordar a restrição externa.

“A região está crescendo novamente devido aos preços das matérias-primas, mas isto apresenta o risco da reprimarização, não gera empregos e nos leva de volta ao velho paradigma extrativista”, afirmou.

Também fez um apelo ao mundo desenvolvido no sentido de dar espaço aos países em transição e aos de menor desenvolvimento para construir capacidades tecnológicas e industriais e sublinhou que a pandemia é uma oportunidade para aumentar, por exemplo, as capacidades na indústria farmacêutica da região.

A máxima representante da CEPAL acrescentou que é necessário enfrentar a inclusão social e a redistribuição da renda, bem como avançar rumo a uma mudança de paradigma fiscal.

Instou também a um maior investimento. “A América Latina e o Caribe investem 18% do PIB e são necessários ao menos mais 10 pontos percentuais. Esses investimentos têm que ser orientados para uma transição verde, a setores que realmente permitam uma descarbonização”, sublinhou.

Finalmente, ressaltou a urgência de um pacto global por um multilateralismo mais justo.

“É preciso que os países de renda média sejam incluídos na iniciativa de suspensão da dívida do G-20, que se adicionem instrumentos inovadores, como cláusulas de furacões, títulos de ODS e outros, que se analise o papel das agências classificadoras de risco e talvez um fórum multilateral de dívida, onde se possa falar de uma classificadora pública. E também maior redistribuição adicional de liquidez, além dos direitos especiais de saque (DES)”, enfatizou Alicia Bárcena.

“Dissemos muitas vezes: acreditamos que é preciso suspender a graduação, reter a ajuda oficial ao desenvolvimento, precisamos de uma aproximação multidimensional e medidas diferentes, que os países de renda média tenham acesso ao financiamento concessional e que o sistema multilateral de comércio seja mais amigável com os países de renda média”, concluiu.