O Acordo sobre o Clima em Paris: uma aposta pela ação coletiva

15 de Dezembro de 2015

Coluna de opinião da Alicia Bárcena, Secretária Executiva da CEPAL (dezembro 2015).

Os governos do mundo enfrentam na 21ª Conferência das Partes (COP-21) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que se realiza em Paris de 30 de novembro a 11 de dezembro, o desafio de chegarem a um acordo que limite o aumento da temperatura do planeta a dois grados centígrados até o ano 2100 acima do nível pré-industrial.

Para isso, a COP-21 introduz um modelo distinto ao Protocolo de Quioto (2005-2012) que se baseava em uma interpretação das responsabilidades comuns, mas diferenciadas. Hoje o novo modelo enfatiza a responsabilidade comum e ameniza a diferenciação. Ou seja, aponta para que a maioria dos países contribua para a mitigação e adaptação, que formalizem seu compromisso voluntário nacional no marco da Convenção e que se alcancem mecanismos de revisão periódicos. Espera-se, também acordar transferências nos âmbitos tecnológico e financeiro, com um fluxo anual de até 100 bilhões de dólares.

O veículo de mudança é a apresentação por parte dos países de Contribuições Internacionais Nacionalmente Determinadas (INDCs na sua sigla em inglês). No dia 1 de outubro, 147 países apresentaram seus INDCs. O Secretariado da Convenção considera que com essas contribuições às emissões mundiais média per capita cairão de 7,3 toneladas em 1990 para 6,7 toneladas em 2030, implicando uma redução de 9%, não evitando o aumento adicional de 2,7 °C para o final do século.

No caso da América Latina e do Caribe, 23 países, que em conjunto são responsáveis por 88% do total das emissões da Região (segundo dados de 2012), apresentaram seus INDCs nesta data. O México foi um dos primeiros em nível mundial a enviar sua proposta de reduzir incondicionalmente, 25% de suas emissões de gases de efeito estufa (GEI) relacionado a um cenário inercial até 2030. Foi seguido pela República Dominicana, que se comprometeu em reduzir 25% até 2030 com relação a 2010. O Brasil destacou-se com sua proposta de reduzir para 37% suas emissões em 2025 com relação a 2005.

O esforço destas contribuições dirige-se, principalmente, aos setores florestal e energético e inclui, também, ações orientadas para as boas práticas agrícolas, transporte limpo, gestão de resíduos e melhora de processos industriais. Os INDCs latino-americanos têm um componente forte de adaptação, pois a Região é altamente vulnerável ao degelo, ao aumento do nível do mar, às inundações ou secas extremas conforme a área.

Para isso, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) elabora cenários de mudança climática por país e do aumento do nível do mar, de transferência de ferramentas de análise e de apoio às prioridades dos governos em matéria de adaptação e mitigação inclusiva e com benefícios sociais.

No caso de nossa Região, a CEPAL propõe uma mudança estrutural progressiva para um desenvolvimento mais sustentável e inclusivo. A persistente desigualdade se expressa tanto no consumo da energia, como nas emissões e na exposição ao risco. Isto faz com que medidas de proteção aos mais vulneráveis economicamente tenham efeitos favoráveis sobre a adaptação e que medidas de inclusão social e de proteção à saúde, como a melhora do transporte público, o manejo de resíduos e da saúde dos ecossistemas, tenham impactos positivos sobre a mitigação e, portanto um valor social agregado.

Na América Latina e no Caribe, a composição das emissões é dominada pela geração de energia elétrica, pelo transporte e pela mudança de uso do solo. A CEPAL defende a diversificação produtiva. Por isso, tanto o freio dos grandes contaminantes em nível global como a redução interna dos principais emissores por consumo são condições críticas para proteger o espaço remanescente para acomodar as emissões que estariam por vir de uma estrutura produtiva mais diversificada.

A COP-21 é definitivamente um momento de mudança e abre uma transição que deve ser bem-sucedida no âmbito do multilateralismo para a ação coletiva. As opções futuras diante de um fracasso deste caminho são muito pouco atrativas e até ameaçadoras para os países de nossa Região.

 

Alicia Bárcena

Secretária-Executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

Subscrição

Get ECLAC press releases by email