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O investimento estrangeiro direto na América Latina e no Caribe caiu 7,8% em 2019 e um colapso de cerca de 50% é esperado em 2020

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2 de dezembro de 2020|Comunicado de imprensa

Os problemas estruturais das economias latino-americanas e caribenhas e os novos cenários internacionais tornam necessário que o IED contribua para impulsionar um desenvolvimento com igualdade e sustentabilidade ambiental na região, afirma a CEPAL em seu relatório anual sobre o tema.

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Alicia Bárcena, Secretária-Executiva da CEPAL
Alicia Bárcena, Secretária-Executiva da CEPAL, apresentou o relatório no Santiago do Chile.
Foto: CEPAL

A América Latina e o Caribe receberam US$160,72 bilhões de investimento estrangeiro direto em 2019, 7,8% menos do que em 2018, queda que se agravaria em 2020, já que, como consequência da crise derivada da pandemia da COVID-19 é previsto uma redução de 45% e 55% na entrada desses fluxos, informou hoje a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) ao apresentar seu estudo anual: O Investimento Estrangeiro Direto na América Latina e no Caribe 2020 (disponível em breve no site da CEPAL).

No âmbito mundial, os valores de investimento estrangeiro direto (IED) cairiam 40% em 2020, e de 5% para 10% em 2021. Dessa forma, em 2021, o IED alcançaria seu menor valor desde 2005. América Latina e Caribe é a região que teria a queda mais acentuada, explica o documento da CEPAL, lançado em uma coletiva de imprensa virtual pela Secretária-Executiva da Comissão Regional da ONU, Alicia Bárcena.

Desde 2012, quando foi alcançado o máximo histórico, a queda dos fluxos de investimento estrangeiro tem sido quase ininterrupta na América Latina e no Caribe, o que tornou evidente, principalmente nos países da América do Sul, a relação que existe na região entre os fluxos de IED, o ciclo macroeconômico e os ciclos de preços das matérias-primas, afirma o relatório.

Como nos anos anteriores, o estudo mostra grande heterogeneidade nos resultados nacionais e não é registrado um padrão sub-regional: em 17 países há uma queda das entradas em 2019 em relação à 2018 e em 9 países há um aumento. Em 2019, os cinco países que receberam maiores investimentos foram Brasil (43% do total), México (18%), Colômbia (9%), Chile (7%) e Peru (6%).

Na América Central, os fluxos de IED cresceram apenas no Panamá e na Guatemala. No Caribe, o IED direcionado à República Dominicana superou a queda do ano anterior. Trinidad e Tobago registrou investimentos positivos após três anos de saldos negativos e na Guiana, como em 2018, houve um aumento interanual muito importante, impulsionado pelos investimentos para a exploração de petróleo e setores relacionados, capitais que posicionaram o país como o segundo receptor de IED na sub-região.

Ao analisar o período de 2010-2019, a Europa se consolida como o investidor mais importante da região, seguida pelos Estados Unidos. No entanto, os investimentos intra-regionais se reduziram de 12% para 6%.

Por outro lado, o relatório destaca o setor de energias renováveis ​​como o que mais divulgou projetos no último quinquênio.

Sobre o comportamento das empresas transnacionais latino-americanas, conhecidas como translatinas, a publicação da CEPAL relata um aumento de 75% na saída de IED da região em 2019. Porém, se for analisada a década de 2010-2019, observa-se que o investimento latino-americano perdeu força, de acordo com a Comissão.

“As contribuições do IED na região têm sido relevantes, como complemento do investimento nacional e fonte de novos capitais, bem como para a expansão das atividades exportadoras e para o desenvolvimento da indústria automotiva, das telecomunicações, alguns segmentos da economia digital e também de setores que hoje adquirem importância estratégica no contexto da pandemia da COVID-19, como é o caso das indústrias farmacêutica e de dispositivos médicos”, destaca o estudo.

No entanto, os problemas estruturais das economias da região e os novos cenários internacionais também tornam necessário que o IED e as políticas para promovê-lo façam parte de um projeto mais amplo que impulsione uma mudança estrutural progressiva, ou seja, uma mudança que permita aumentar a produtividade e alcançar a inclusão social, a igualdade e a sustentabilidade ambiental, ressalta a CEPAL.

“O IED recebido pela América Latina e Caribe não catalisou mudanças relevantes na estrutura produtiva da região, em grande medida porque as políticas de atração desses fluxos não se articularam com as de desenvolvimento produtivo. O IED oferece grandes oportunidades para avançar rumo a uma nova economia sustentável”, declarou Alicia Bárcena. “É urgente recuperar o papel das políticas industriais como instrumento de transformação da estrutura produtiva da região”, frisou.

Bárcena recordou que a CEPAL identificou sete setores dinamizadores que têm um papel estratégico porque promovem a mudança técnica, geram empregos e reduzem a restrição externa e a pegada ambiental. Esses setores, que poderiam ser sustentados pelo IED, são: a transformação da matriz energética com base nas energias renováveis; a mobilidade sustentável e os espaços urbanos; a revolução digital para a sustentabilidade; a indústria manufatureira da saúde; a bioeconomia, ou seja, a sustentabilidade baseada em recursos biológicos e ecossistemas naturais; a economia circular; e o turismo sustentável.

No segundo capítulo do relatório, intitulado “Rumo a uma nova geografia produtiva global pós-pandemia: a reorganização das cadeias globais de valor”, a CEPAL propõe como desafios para a região conter a pressão de relocalização nacional (reshoring) para os Estados Unidos, captar as oportunidades de relocalização que permitiriam fortalecer os sistemas produtivos regionais (nearshoring) e articular estratégias de atração de IED com políticas industriais para criar capacidades locais.

Por fim, o terceiro capítulo indica que a América Latina e o Caribe alcançaram uma boa posição exportadora de dispositivos médicos, impulsionada unicamente por empresas transnacionais, destacando-se o caso do México, Costa Rica e República Dominicana.

“Na América Latina e no Caribe, a crise da COVID-19 mostra a crescente importância de estimular a cooperação regional e o desenvolvimento de um mercado regional de saúde e dispositivos médicos e de centros industriais transfronteiriços. A indústria de dispositivos médicos requer capacidades manufatureiras, científicas e tecnológicas que estão presentes em vários países da região e cujas potencialidades foram reveladas diante da emergência sanitária. O desenvolvimento de capacidades industriais e tecnológicas nacionais e a melhoria do acesso aos dispositivos médicos para os habitantes da América Latina e do Caribe são um desafio estratégico e, para enfrentá-lo com êxito, serão necessárias diretrizes de política nacional e regional”, conclui o documento.