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O investimento estrangeiro direto na América Latina e no Caribe aumentou 40,7% em 2021, mas não voltou aos níveis pré-pandemia

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29 de novembro de 2022|Comunicado de imprensa

Num novo relatório, a CEPAL insta os países da região a utilizar estrategicamente o IED para fortalecer e desenvolver capacidades que contribuam para o desenvolvimento sustentável e inclusivo.

Num contexto de fraca recuperação econômica, a América Latina e o Caribe receberam 142,794 bilhões de dólares de investimento estrangeiro direto (IED) em 2021, 40,7% mais que em 2020; porém, este crescimento não foi suficiente para alcançar os níveis registrados antes da  pandemia, informou hoje a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) num comunicado de imprensa que apresenta as principais conclusões do relatório anual O Investimento Estrangeiro Direto na América Latina e no Caribe 2022.

Em todo o mundo, os montantes de IED aumentaram 64% em 2021, alcançando aproximadamente 1,6 trilhão de dólares. Não obstante, diminuiu a participação da América Latina e do Caribe como destino dos investimentos mundiais, representando 9% do total, uma das porcentagens mais baixas dos últimos dez anos e longe dos 14% registrados em 2013 e 2014.   

De acordo com o relatório, a reativação dos investimentos em 2021 ocorreu em todas as sub-regiões. Os países que receberam mais montantes de IED foram Brasil (33% do total), México (23%), Chile (11%), Colômbia (7%), Peru (5%) e Argentina (5%).

Na América Central, a Costa Rica foi o principal receptor pelo segundo ano consecutivo nesta sub-região. Na Guatemala uma aquisição de grande magnitude no setor das telecomunicações explica o considerável aumento registrado. O Panamá, por sua vez, conseguiu recuperar-se depois do forte golpe que os investimentos receberam em 2020.

No Caribe, a Guiana foi o país que apresentou o maior crescimento do montante de investimento, superando a República Dominicana, que em anos anteriores havia liderado o recebimento de investimentos nesta sub-região.

Os setores de serviços e recursos naturais, com aumentos de 39% e 62%, respectivamente, foram os setores mais dinâmicos, indica o documento. No setor das manufaturas, a queda das entradas de IED em 2021 (-14%) é explicada pela diminuição de investimentos no Brasil.

A União Europeia e os Estados Unidos foram os principais investidores em 2021, representando 36% e 34% do total, respectivamente.

As telecomunicações e as energias renováveis mantiveram-se como os setores que despertam o maior interesse dos investidores estrangeiros para a realização de novos projetos; contudo, os anúncios de novos projetos de investimento não se recuperaram em 2021 e estão em seu ponto mais baixo desde 2007 (51,5 bilhões de dólares). Isto coincide com o maior interesse dos investidores no desenvolvimento de novos projetos nas economias desenvolvidas, principalmente na União Europeia e nos Estados Unidos. 

O número de fusões e aquisições na região em 2021 aumentou (33%), mas ainda está num dos níveis mais baixos da década. As 20 maiores operações, que totalizaram 18 bilhões de dólares, ocorreram no Brasil, Chile, Colômbia, Guatemala e México.

“Numa região com baixos níveis gerais de investimento, o investimento estrangeiro direto é fundamental para a formulação de uma política produtiva”, enfatiza o Secretário Executivo da CEPAL, José Manuel Salazar-Xirinachs.

“Para obter um impacto positivo do investimento estrangeiro direto, é necessário articular as políticas de desenvolvimento produtivo com a atração de investimentos de alta produtividade, em atividades que apoiem processos virtuosos de desenvolvimento em termos de inclusividade, qualidade do emprego, sustentabilidade ambiental, inovação e complexidade tecnológica. As crises em cascata que afetam a região nos obrigam a definir estratégias para posicionar os países da América Latina e do Caribe no panorama mundial de investimentos”, assinala o máximo representante da CEPAL.

Em 2021, os fluxos das empresas transnacionais latino-americanas (“translatinas”) também se recuperaram da forte queda registrada no ano anterior (+302%). Enquanto o Brasil, Chile e Colômbia mostraram um aumento nos fluxos de investimento direto do exterior, o México sofreu um retrocesso.

O segundo capítulo do relatório, dedicado ao investimento estrangeiro direto na indústria farmacêutica na região, indica que o IED constitui uma ferramenta estratégica para o desenvolvimento de capacidades neste setor na América Latina e no Caribe. As empresas transnacionais realizam os maiores investimentos em pesquisa e desenvolvimento e patenteamento, motivo pelo qual a transferência de tecnologia e conhecimento desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de capacidades industriais locais.

De acordo com o documento, a América Latina e o Caribe, com 660 milhões de habitantes, podem ser o mercado com o maior crescimento de vendas de produtos farmacêuticos do mundo entre 2021 e 2026. Na região, a indústria farmacêutica é pequena (0,4% do PIB da região e 0,2% do emprego), mas tem alta produtividade, emprega trabalhadores qualificados e os salários são mais altos do que no resto da indústria manufatureira. Por isso, a região requer estratégias setoriais e mecanismos de identificação de investimentos de qualidade, complementados com estímulos aos investimentos nacionais e à pesquisa e desenvolvimento local, sublinha a CEPAL.

O terceiro capítulo, intitulado “A emergente indústria de veículos elétricos: oportunidades para a América Latina”, ressalta que a mudança climática e o processo de transformação do setor automotivo abrem una janela de oportunidade para promover investimentos e desenvolver capacidades produtivas na América Latina e no Caribe. Para avançar neste sentido, são necessárias políticas produtivas mais ambiciosas e coerentes que estimulem a demanda e apoiem a oferta, afirma a Comissão.

Os fabricantes de veículos e as empresas de energia, mediante modelos de negócio mais proativos, podem converter-se em agentes para a difusão, desenvolvimento e expansão destas novas tecnologias. No segmento de ônibus elétricos para o transporte público encontram-se as oportunidades mais interessantes e é necessário definir uma clara política produtiva para todo o setor, conclui o relatório.