Comunicado de imprensa
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) divulgou hoje seu relatório anual Estudo Econômico da América Latina e do Caribe, 2022: dinâmica e desafios do investimento para impulsionar uma recuperação sustentável e inclusiva, no qual projeta um crescimento econômico para este ano de 2,7% em média, em um contexto de fortes restrições macroeconômicas que estão atingindo as economias da região.
De acordo com o relatório apresentado em uma conferência de imprensa realizada na sede da agência da ONU em Santiago do Chile, uma seqüência de crises levou ao cenário de baixo crescimento e aceleração da inflação na economia global, o que, juntamente com um crescimento comercial mais lento, a valorização do dólar e o aperto das condições financeiras globais, afetará negativamente os países da região.
"Em um contexto de múltiplos objetivos e restrições crescentes, a coordenação da política macroeconômica é necessária para apoiar a aceleração do crescimento, dos investimentos, da redução da pobreza e da desigualdade, ao mesmo tempo em que se trata da dinâmica inflacionária", disse Mario Cimoli, Secretário Executivo Interino da CEPAL, no lançamento da Estudo Econômico 2022.
O documento destaca que os países da América Latina e do Caribe enfrentam um panorama econômico complexo em 2022 e nos anos seguintes. Além do crescimento econômico mais lento, existem fortes pressões inflacionárias, criação lenta de empregos, queda de investimentos e crescentes demandas sociais. Esta situação resultou em grandes desafios para a política macroeconômica, que deve conciliar políticas para impulsionar a recuperação econômica com políticas destinadas a controlar a inflação e tornar as finanças públicas sustentáveis.
O complexo cenário doméstico da região é agravado por um cenário internacional no qual a guerra entre a Federação Russa e a Ucrânia levou a tensões geopolíticas crescentes, crescimento econômico global menos dinâmico, redução da disponibilidade de alimentos e aumentos nos preços da energia que aumentaram as pressões inflacionárias que vinham ocorrendo como resultado dos choques de fornecimento gerados pela pandemia da doença coronavírus (COVID-19), diz o relatório.
A CEPAL projeta que a América do Sul cresça 2,6% (contra 6,9% em 2021), o grupo América Central e México 2,5% (contra 5,7% em 2021) e o Caribe - a única sub-região a crescer mais do que em 2021 - em 4,7%, excluindo a Guiana (contra 4,0% no ano anterior).
O Estudo Econômico 2022 também mostra que o conflito na Ucrânia intensificou a dinâmica ascendente dos preços de commodities já presentes desde o segundo semestre de 2020, empurrando alguns preços de commodities para máximos históricos. Para a região como um todo, o efeito é misto, com termos de troca de mercadorias projetados para diminuir em 7%.
A inflação, entretanto, continuou a aumentar, atingindo uma média regional de 8,4% em junho de 2022, que é mais que o dobro do valor médio registrado no período 2005-2019. Em nível sub-regional, as economias sul-americanas tiveram a maior inflação média em junho de 2022 (8,8%), seguidas pelas economias do grupo da América Central e do México (7,5%) e as do Caribe de língua inglesa (7,3%). Isto levou os bancos centrais a aumentar as taxas de política e reduzir os agregados monetários.
Por outro lado, a desaceleração da atividade econômica está restringindo a recuperação dos mercados de trabalho, especialmente para as mulheres. Enquanto a taxa de desemprego masculino caiu de 10,4% no final do segundo trimestre de 2020 para 6,9% no final do primeiro trimestre de 2022, uma queda de 3,5 pontos percentuais, a taxa de desemprego feminino caiu 2,1 pontos percentuais no mesmo período, de 12,1% para 10,0%. Também, no final do primeiro trimestre de 2022, a taxa de participação feminina (51,4%) fica atrás da taxa de participação masculina (74,2%). Este atraso na reincorporação da mulher ao mercado de trabalho é condicionado pelo atraso na recuperação dos setores econômicos que concentram o emprego feminino e pelo aumento da necessidade de cuidados que se manifestou fortemente após o surgimento da pandemia.
Em sua segunda parte, o relatório da CEPAL salienta que, além da dinâmica do ciclo econômico, o baixo crescimento dos investimentos nas últimas três décadas se tornou uma restrição estrutural ao desenvolvimento. Portanto, a reativação da dinâmica de investimento é central para o crescimento sustentável e inclusivo, pois o investimento é a ponte entre o curto e o médio prazo e é essencial para enfrentar a mudança climática.
Entre 1951 e 1979, a formação bruta de capital fixo (investimento) em termos reais cresceu em média 5,9% ao ano, enquanto entre 1990 e 2021 a taxa média de crescimento do investimento foi de apenas 2,9% ao ano. Por isso, a CEPAL exige urgentemente um aumento dos investimentos na América Latina e no Caribe, que no final de 2021 se situavam nos níveis mais baixos em comparação com outras regiões. Para alcançar esta última, é necessária uma maior coordenação entre a política fiscal, monetária e cambial e para aproveitar o conjunto de ferramentas disponíveis para as autoridades de modo a não subordinar o crescimento e o investimento à política anti-inflacionária. Além disso, os esforços macroeconômicos devem ser complementados por políticas industriais, comerciais, sociais e de economia de cuidados, diz o documento.
Também salienta que uma parte importante do financiamento para aumentar o investimento deve vir da mobilização de recursos internos, mas a cooperação internacional deve acompanhar este processo. Portanto, a assistência oficial ao desenvolvimento e o financiamento de instituições financeiras globais e bancos de desenvolvimento devem ser significativamente aumentados.