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A América Latina e o Caribe devem aproveitar a histórica janela de oportunidade e impulsionar a integração regional, focando na transição ecológica, destacou Aloizio Mercadante na CEPAL

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4 de setembro de 2023|Comunicado de imprensa

O Presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) do Brasil proferiu uma palestra magna e assinou um acordo em Santiago hoje criando Grupo de Trabalho Celso Furtado, que retoma o histórico Grupo de Trabalho BNDES-CEPAL da década de 1950.

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Foto de participantes en el evento
Foto: CEPAL.

A América Latina e o Caribe devem agir com "coragem" para reimpulsionar e acelerar a integração regional, com foco na necessária descarbonização das economias da região para enfrentar a grave crise climática, enfatizou Aloizio Mercadante, Presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil (BNDES), durante uma palestra magna realizada na sede principal da CEPAL em Santiago, Chile.

O economista, político e acadêmico brasileiro apresentou uma palestra intitulada "O papel dos bancos de desenvolvimento na transformação do modelo de desenvolvimento latino-americano", a terceira do Ciclo de Conferências Magnas organizado em comemoração ao 75º aniversário da CEPAL. Ele foi recebido pelo Secretário Executivo desta comissão regional das Nações Unidas, José Manuel Salazar-Xirinachs.

"Devemos reposicionar a América Latina no cenário internacional. Estamos enfrentando uma grande mudança geopolítica, uma polarização entre Oriente e Ocidente, entre Estados Unidos e China. A região, diante desse cenário, precisa continuar buscando ativamente um mundo multipolar. A América Latina precisa construir pontes, buscar interações entre os países do Sul global", disse Mercadante, que atua como o 39º Presidente do BNDES desde fevereiro deste ano, nomeado pelo Presidente da República do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva.

Durante sua apresentação, Aloizio Mercadante repassou os pilares da política econômica atual do governo brasileiro, incluindo uma nova política industrial, um programa de aceleração do crescimento e a transformação ecológica, iniciativas para avançar em direção a uma economia verde e descarbonizada.

"Isso faz parte de um esforço histórico. O Brasil está passando por um novo momento e é muito positivo, mas isso só faz sentido se for compartilhado com os outros países da América Latina e do Caribe", enfatizou.

"Juntos, temos uma presença diplomática maior e um mercado de consumo mais poderoso. No entanto, a agenda de integração precisa ser revista", reconheceu. "Devemos integrar as cadeias de valor da região, criar alianças entre empresas. Precisamos intensificar a infraestrutura para acelerar a integração econômica e comercial da região", detalhou.

"O Brasil já produz baterias de lítio. Por que não chegamos a um acordo conjunto com o Chile, a Argentina e a Bolívia, que têm grandes reservas de lítio, para exportar essas baterias e não apenas matérias-primas?", exemplificou. "Nosso desafio na região não é substituir as commodities que exportamos, mas criar valor agregado", destacou.

Durante sua intervenção, Mercadante convocou o G-20, cuja presidência o Brasil assumirá a partir de 1º de dezembro deste ano, a priorizar a ação climática, e analisou o papel que os bancos nacionais de desenvolvimento podem e devem desempenhar em áreas como a reindustrialização, inovação, desenvolvimento digital, transição energética e combate à crise climática, entre outras. O BNDES, disse ele, está gerando instrumentos financeiros inovadores e estabelecendo parcerias com outros bancos públicos e instituições regionais.

O economista brasileiro também valorizou a contribuição histórica da CEPAL e expressou confiança de que a organização regional das Nações Unidas pode apoiar a região nos diversos desafios que enfrenta hoje. "A CEPAL sempre foi um centro de referência fundamental para o desenvolvimento, estruturalista, inovador, que combina o desenvolvimento econômico e o combate à desigualdade em nossa região", disse. "O Brasil precisa muito da CEPAL e a CEPAL também precisa do Brasil", afirmou.

José Manuel Salazar-Xirinachs, por sua vez, agradeceu a participação de Mercadante no Ciclo de Conferências Magnas e destacou a longa e frutífera relação entre a CEPAL e o BNDES, recordando especialmente a figura do influente economista brasileiro Celso Furtado.

"Celso Furtado, que completaria 103 anos este ano, foi um dos fundadores do que é conhecido como o 'pensamento cepalino' sobre o desenvolvimento da América Latina e do Caribe e também fez parte da equipe do BNDES como diretor na década de 1950", afirmou o Secretário Executivo da CEPAL. No Brasil, Furtado liderou o Grupo Misto de Estudos CEPAL-BNDES, que funcionou de 1953 a 1955.

No âmbito da visita de Mercadante, ambas as instituições assinaram um memorando de entendimento, que formaliza a criação de um novo Grupo de Trabalho conjunto, denominado Celso Furtado, com o objetivo de promover pesquisas acadêmicas, a publicação de trabalhos e treinamentos em temas-chave para o desenvolvimento das economias brasileira, latino-americana e caribenha.

"Este Grupo de Trabalho recupera, 70 anos depois, um marco histórico de atuação e iniciativas para o desenvolvimento econômico, diante dos novos desafios e complexidades apresentados pelo século XXI, para criar um futuro mais produtivo, inclusivo e sustentável", explicou Salazar-Xirinachs.

Para o máximo representante da CEPAL, "Brasil e os países da América Latina e do Caribe estão em uma encruzilhada: apesar do enorme potencial dos países, as taxas de crescimento na última década foram muito baixas, criando um ambiente em que as lacunas estruturais de desenvolvimento tendem a se agravar".

"O grande impulso, ou 'big push', que precisamos fazer em várias frentes - produtiva, social, ambiental, digital, educacional e em termos de sociedade do cuidado - para transformar nossos modelos de desenvolvimento requer um aumento no financiamento, e poucas instituições no mundo têm tanta experiência nesse assunto quanto o BNDES", afirmou Salazar-Xirinachs.

O banco de desenvolvimento, enfatizou ele, tem um papel central no financiamento das transformações de nossos modelos de desenvolvimento e das respectivas mudanças estruturais. Sem investimentos massivos, não haverá mudança estrutural em direção a um modelo de desenvolvimento mais produtivo, inclusivo e sustentável, nem transições para acelerar o progresso em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, observou.

O Ciclo de Conferências Magnas iniciou em 24 de julho com a participação de Arancha González Laya, Decana da Escola de Assuntos Internacionais de Paris (PSIA) do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po), enquanto em 18 de agosto, o destacado economista colombiano e ex-Secretário Executivo da CEPAL, José Antonio Ocampo, esteve presente. Até fevereiro de 2024, outros pensadores proeminentes se reunirão na sede da Comissão em Santiago para apresentar suas visões e ideias sobre os desafios do mundo e da região. A lista completa de palestrantes está disponível aqui.