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A Secretária Executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), Alicia Bárcena, sublinhou a urgência de transformar os privilégios em direitos para acabar com a desigualdade, a pobreza e a migração, que são hoje a base do desencanto social na região, durante uma conferência magistral realizada no âmbito do Fórum Regional do Sistema da Integração Centro-Americana (SICA) 2019, realizado em 4 e 5 de dezembro em El Salvador.
A alta funcionária das Nações Unidas realizou uma apresentação intitulada Integração regional e perspectivas para o desenvolvimento da América Central, na qual sublinhou a importância de implementar um novo modelo de desenvolvimento e encontrar novas rotas que permitam aos países igualar para crescer e crescer para igualar.
“Até quando a cultura do privilégio, da corrupção e da desigualdade? O desencanto e a raiva estão num momento crítico a respeito da continuidade de um modelo que se associa a três décadas de concentração da riqueza e deterioração ambiental com insuficiente crescimento. Não há legitimidade hoje do modelo de desenvolvimento que estamos vivendo e os jovens sabem disso; por isso, estão nas ruas manifestando-se”, afirmou.
Alicia Bárcena enfatizou que a cultura do privilégio, herança de nossos vestígios coloniais, naturaliza as desigualdades e a discriminação, as hierarquias sociais, a deliberação política e o acesso à justiça.
“Temos que combater a cultura do privilégio. O modelo vigente já não responde, nem em crescimento, nem em redução da desigualdade, nem em erradicação da pobreza”, assinalou.
A máxima representante da CEPAL acrescentou que uma das manifestações mais eloquentes da cultura do privilégio é a evasão fiscal, que na América Latina ascende a 6,3% do PIB, equivalente a 335 bilhões de dólares, enquanto o gasto em programas de proteção social não contributiva alcança 1,47% do PIB.
Além disso, assinalou que na América Latina 76,8% das pessoas vivem com uma renda abaixo de três linhas de pobreza e mais da metade da população adulta (52%) dos estratos médios não concluíram 12 anos de estudo em 2017.
Frente ao complexo contexto regional e global, a Secretária Executiva da CEPAL sublinhou a necessidade de aprofundar a integração e destacou o processo centro-americano como um esforço sustentado que ainda enfrenta novos desafios.
“A integração importa e muito. A sub-região centro-americana deve sentir-se orgulhosa do que conquistou. Levam dois séculos de esforços para manter a unidade. A América Central é a sub-região mais integrada da América Latina e do Caribe”, expressou.
Alicia Bárcena indicou que, embora na América Central a economia deva crescer 2,5% em 2019, a pobreza e a pobreza extrema registraram aumento nos últimos anos e projeta-se um recrudescimento em 2019. Isto vem junto com crescentes taxas de desemprego que impactam principalmente os jovens da sub-região.
“Na América Central mais de 600 mil jovens buscam ingressar no mercado de trabalho e só são gerados em torno de 250 mil empregos formais novos. Ante esta realidade, uma das opções é a migração. Estima-se que cerca de 250 mil centro-americanos emigram de seus países. Mais da metade são jovens, alguns deles menores de idade”, alertou.
Nesse sentido, destacou o Plano de Desenvolvimento Integral de El Salvador, Guatemala, Honduras e México, que promove soluções integrais para a migração, o desenvolvimento sustentável e o aprofundamento da cooperação regional.
Finalmente, a Secretária Executiva da CEPAL instou a construir um espaço de desenvolvimento sustentável comum, melhorando a integração em infraestrutura, energia e logística, com um paradigma e um modelo de desenvolvimento diferentes e com os jovens a bordo.