EM FOCO

A América Latina experimenta um processo de envelhecimento populacional inexorável

Foto: Tinnyaw, Flickr

Apesar das diferenças entre países, a América Latina e o Caribe estão experimentando um processo de envelhecimento populacional inexorável, com importantes implicações para os governos e a sociedade em geral. Assim demonstra a análise dos indicadores econômicos sob uma perspectiva etária (segundo os grupos de idade que compõem a população).

Este enfoque, que examina o ciclo de vida econômico das gerações, é o centro do projeto sobre Contas Nacionais de Transferências (CNT), coordenado pelo Centro Latino-Americano e Caribenho de Demografia (CELADE), Divisão de População da CEPAL, realizado com o apoio do Centro Internacional de Pesquisas para o Desenvolvimento (CIID) do Canadá e da Universidade da Califórnia em Berkeley (Estados Unidos) como parte de um projeto mundial liderado pelos professores Ronald Lee e Andrew Mason.

Trata-se de uma perspectiva inovadora que permite examinar relações econômicas entre grupos numa economia nacional: entre jovens e idosos, entre ricos e pobres, entre homens e mulheres. Pela primeira vez, é possível observar a totalidade dos fluxos econômicos entre esses grupos: seja pelo mercado (através do mercado de trabalho e financeiro), pelo Estado (através de impostos e benefícios) ou pela família (através de transferências dentro das famílias e entre elas).

A desigualdade de consumo entre esses grupos pode ser medida e é possível avaliar os papéis desempenhados pelo mercado, pelo Estado e pela família na manutenção da desigualdade. A aplicação do mesmo marco a muitos países permite comparações internacionais dessa desigualdade por idade, por nível socioeconômico e por gênero.

O exame das cifras tomadas de pesquisas domiciliares sobre renda, gastos, ativos, força de trabalho e transferências, bem como das contas nacionais nos 10 países da região que participam do projeto, mostra que a América Latina e o Caribe estão passando por um período de transformações demográficas muito acentuadas, com importantes repercussões na estrutura de suas economias e nas relações econômicas entre grupos etários.

Embora o envelhecimento das economias seja um fenômeno recente, no médio prazo se converterá na característica dominante da maioria dos países do mundo. Define-se como envelhecida a economia em que o consumo das pessoas de 65 anos ou mais supera o das crianças e adolescentes (de 0 a 19 anos). A análise das CNT permite estimar e projetar o consumo de ambos os grupos etários.

Com base em dados obtidos do projeto mundial, prevê-se que em 2040 haja 73 economias envelhecidas no mundo, entre elas as do Brasil, Uruguai, Chile, Costa Rica e Cuba. Isto tem importantes implicações econômicas e fiscais, entre elas um grande aumento do gasto em saúde e um aumento da pressão sobre os orçamentos governamentais.

Durante o V Congresso da Associação Latino-Americana de População (ALAP), realizado em Montevidéu (Uruguai) de 23 a 26 de outubro de 2012, peritos do CELADE, CIID e Universidade de Berkeley organizaram uma sessão sobre envelhecimento, desigualdade e gênero na América Latina e no Caribe, no âmbito do projeto CNT.

O evento teve apresentações de diversos membros de equipes nacionais integrantes do projeto e contou com um público importante de pesquisadores interessados no tema. Os peritos apresentaram estudos preliminares sobre a incorporação da dimensão de gênero e delinearam as principais áreas de trabalho no futuro, em especial sobre o envelhecimento da população na região e seus desafios econômicos e fiscais, a inclusão de metas de igualdade com base em estimativas de CNT e a elaboração de estudos sobre os determinantes próximos da desigualdade socioeconômica e de gênero na região .

Mapa de economias envelhecidas em 2040



Fonte: elaboração própria da CELADE-Divisão de População da CEPAL, a partir da base de dados do projeto CNT.

 


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  A América Latina e o Caribe estão passando por um período de transformações demográficas muito acentuadas, com importantes repercussões na estrutura etária da população.
 
 
 

Num seminário realizado recentemente em Montevidéu (Uruguai), peritos analisaram a incorporação da dimensão de gênero nas contas nacionais dos países.