Comunicado de imprensa
A economia mexicana deve aumentar significativamente o investimento, especialmente o público, e reduzir a desigualdade para sair da armadilha de lento crescimento em que se encontra há décadas. Assim assinala um recente estudo publicado pela Sede Sub-Regional da CEPAL no México.
No documento, intitulado Tendências e ciclos da formação de capital fixo e atividade produtiva na economia mexicana, 1960-2015 (em espanhol), os consultores da CEPAL Juan Carlos Moreno-Brid, Jamel Kevin Sandoval e Ismael Valverde analisam o investimento e sua relação com a atividade produtiva sob uma perspectiva de longo prazo e apresentam recomendações de política para dinamizar o crescimento econômico.
Os autores distinguem duas etapas na evolução da economia mexicana: uma que vai de 1960 a 1981, na qual o modelo de desenvolvimento se concentrou na industrialização dirigida pelo Estado; e outra de 1988 a 2015, marcada por uma série de reformas orientadas a priorizar a estabilização macroeconômica nominal e reduzir o papel do Estado na esfera econômica.
O estudo assinala que, 30 anos depois das reformas econômicas empreendidas durante o governo de Miguel De la Madrid (1982-1988) para enfrentar a crise fiscal e de balanço de pagamentos derivada do colapso do mercado petroleiro no início dos anos 1980 e a interrupção do acesso aos circuitos financeiros internacionais, foram obtidos resultados importantes (como baixa inflação, redução do déficit fiscal e expansão das exportações manufatureiras), mas persistem falhas graves.
Entre estas últimas encontram-se o lento crescimento econômico, aumento da concentração de renda e riqueza, deterioração do mercado de trabalho e escasso avanço na luta contra a pobreza. Isto se traduziu em baixas condições de bem-estar material e alta vulnerabilidade numa ampla maioria da população.
Com relação ao produto interno bruto (PIB) do México, o documento indica que nas décadas de 1960 e 1970 a economia cresceu anualmente mais de 6% em média. Em 1982-1987 estagnou-se como resultado da dupla crise fiscal e do balanço de pagamentos e das medidas de ajuste para enfrentá-la. Sua recuperação, além de fraca, foi perdendo vigor. Durante 1988-1994 o PIB real cresceu 3,1% ao ano, em 1995-2000 cresceu 2,7% e em 2000-2008 cresceu 2%, muito abaixo das elevadas taxas registradas nas economias do Cone Sul devido ao boom de produtos primários. Em 2009 a queda registrada no México (-4,7%) foi a mais aguda na região. No ano seguinte a economia cresceu 4,5%, mas logo perdeu força. Seu crescimento anual médio foi de apenas 2,6% em 2010-2015 e será menor em 2016.
Em 1960-1981 o investimento cresceu a uma taxa média anual de 8%, alguns pontos acima da taxa do PIB. Em 1982-1987 sofreu uma severa queda (-7%), com uma recuperação robusta (6,9%) entre 1988 e 1994, mas não manteve o ritmo. No restante dos anos 90 aumentou a uma média anual de 3,9% e em 2000-2008 cresceu 3,6%. Teve uma queda de 9,3% em 2009 e em 2010-2015 cresceu a uma média anual de 2,4%, inferior à do PIB.
Segundo os autores, para recuperar o crescimento e o investimento é preciso introduzir duas mudanças fundamentais na política econômica do país: primeiro, uma reforma fiscal que parta de um compromisso social com uma renovada orientação à modernização e ampliação da infraestrutura; segundo, recolocar o Estado como ator político legítimo e central, em coordenação com o setor privado, na formulação e implementação de uma política econômica para o desenvolvimento.
Por outro lado, os especialistas ressaltam que, tal como a CEPAL vinha afirmando, o crescimento econômico e a redução da desigualdade são objetivos complementares, não antagônicos nem sequenciais. A fim de alcançá-los, é crucial aplicar simultaneamente políticas para transformar a estrutura produtiva e redistribuir a renda de maneira mais progressiva a favor dos salários dos que têm menos.
O documento conclui dizendo que nas condições atuais da economia mundial, marcada pelo lento crescimento do comércio global, o combate à desigualdade é um instrumento indispensável para fortalecer o mercado interno e dotar o crescimento da atividade produtiva e o emprego no país de outro motor de impulso. “Para colocar a desigualdade no centro das preocupações da agenda política macroeconômica e obter um compromisso com o investimento para o desenvolvimento, é preciso um novo pacto fiscal, que não pode continuar sendo a eterna questão pendente de nossa sociedade”, finaliza.