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China e América Latina: diversificação é a palavra-chave

25 de maio de 2015|Coluna de opinião

Coluna de opinião da Alicia Bárcena, Secretária Executiva da CEPAL (maio 2015).

A visita que inicia esta semana o primeiro-ministro da China, Li Keqiang, ao Brasil, Chile, Colômbia e Peru marca uma nova etapa no aprofundamento das relações econômicas, políticas e de cooperação entre a América Latina e o Caribe e a China.

A visita do primeiro-ministro Li e o discurso que será direcionado para a Região na sede da CEPAL em Santiago do Chile, no dia 25 de maio constituem um esforço mantido por parte da China para impulsionar um caminho conjunto, desde que em 2008 este país reconheceu o caráter estratégico das relações com a nossa região em seu Livro Branco (o documento formal onde é declarada sua posição de política externa para a América Latina e o Caribe).

Muitos são os desafios que as relações econômicas bilaterais têm enfrentado, mas há uma palavra-chave: diversificação. Nos últimos 15 anos, o vínculo tem apresentado um grande dinamismo. O valor do comércio bilateral multiplicou-se 22 vezes entre 2000 e 2014, e a China já é o segundo sócio comercial da Região.

Os fluxos de investimento estrangeiro direto, e em geral de capitais chineses para a América Latina e o Caribe, também cresceram fortemente. Esse processo ocorreu em um contexto onde a economia chinesa cresceu 10% ao ano entre 2000 e 2011, alimentando um “superciclo” das matérias-primas com o que se beneficiou boa parte da Região, em particular os países sul-americanos.

Mas desde 2012, o processo de uma desaceleração econômica que também afeta a região, a China tem crescido a um ritmo compatível com seu ambicioso plano de reformas, procurando evitar que isto afete negativamente a geração de emprego. Espera-se, brevemente, que seu crescimento anual se situe entre 6% e 7% durante o restante da presente década, o que continua sendo destaque como um dos maiores do mundo. Na América Latina e no Caribe, no entanto, o crescimento tem caído abruptamente, devido a fatores internos, como a estagnação do investimento e o enfraquecimento do consumo, e as causas externas, entre elas, o baixo crescimento da zona do euro e a desaceleração da própria China, com a consequente queda da demanda por produtos básicos.

A partir da perspectiva latino-americana, a diversificação exportadora e o aumento na produtividade são os principais assuntos pendentes: tão somente cinco produtos, todos primários, representaram 75% do valor das vendas regionais para a China em 2013. O investimento chinês na Região reforça este padrão, já que entre 2010 e 2013 quase 90% deste foi direcionado para as atividades extrativas, particularmente a mineração e o petróleo.

Para avançar rumo a sociedades mais prósperas e menos desiguais, é necessário que a Região supere sua excessiva dependência da exportação de matérias-primas. Por isso, tão importante quanto expandir os fluxos comerciais e de investimento com a China é desenvolver ações que apontem para modificar sua estrutura.

Se o investimento chinês aumentar e se diversificar nos próximos anos, é possível promover não somente a diversificação exportadora para esse país, mas também, a integração produtiva na própria Região. Igualmente, se a cooperação com a China ajuda a fechar nossas conhecidas brechas de infraestrutura, logística e de conectividade, podemos estimular o comércio intra-regional e a gestação de cadeias regionais de valor.

A rica experiência acumulada por nossos países em matéria de políticas sociais inovadoras, urbanização, proteção ao meio ambiente e outros âmbitos pode ser útil para a China ao abordar os grandes desafios que enfrenta em seu caminho para o desenvolvimento. O Plano de Cooperação da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC) – China, 2015-2019, lançado no último mês de janeiro em Pequim, proporciona um marco institucional apropriado para avançar em todas essas áreas. Depende agora de ambas partes acordar ações de mútuo benefício para dar conteúdo concreto para essa cooperação.